segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Uma viagem

Acordei cedo, muito cedo mesmo, estava cheio de dores. O navio nesta viagem vai um bocado vazio e por causa disso vibra um pouco mais que o normal, o normal já é muito mau. O navio além de vibrar tem um casario alto cuja estrutura base é ligeira fazendo com que funcione como um amplificador de vibrações, está-se melhor na casa da máquina ao lado dos motores do que no meu camarote, cinco pisos acima.
Já durmo no sofá para diminiur o efeito da vibração no meu organismo mas não escapo, todas as noites acordo de madrugada com dores nos rins, na próstata, na bexiga, nas costas, dormências na perna esquerda, já o trivial. O problema de acordar é que eu dificilmente volto a adormecer, acordo, dou umas voltas, casa de banho, bebo água, umas voltas, deito-me e fico de olhos abertos a olhar para o tecto.
Desta vez enquanto dava essas voltas todas resolvi espreitar para o exterior, era madrugada, o dia ia nascer, fui espreitar.
E consegui arrancar o suporte da cortina que com muitas imprecações e promessas de arraiais de porrada lá consegui fixar aquilo de novo e voltei a olhar para o exterior. A cor era espantosa, prometia um belo nascer do Sol. Arranjei-me, peguei na máquina e fui para o exterior.
Cá fora o ar estava fresquito mas aguentava-se bem, de pé ia tirando umas fotos, afinando a máquina, as aberturas velocidades e ISO e comecei a eserar pelo nscer do sol, queria apanhar o primeiro raio que despontasse.
De pé esperava e comecei a reparar na dificuldade de focar o meus olhos, fiz u esforço e vi que eles até nem focavam mal mas a vibração que eu sofria desfocava-me a vista. Estava de pé e a vibração do chão subia-me pelas pernas acima, percorria-me o corpo e chocalhava-me a cabeça, os maxilares vibravam. Fiquei felicíssimo da vida, mais umas histórias para contar ao meu gato Fu á lareira nas longas noites de Inverno.
O momento aproximava-se, o clarão do Sol que antecede o seu nascimento ía aumentando de tamanho e intensidade e eu disparava a máquina, queria apanhar aquele momento.
Era agora... e apanhei com uma baldaça de água na cabeça. O marinheiro de serviço estava no piso superior a lavar as passarelas e não me tinha visto. Dei um salto para o lado e fotografei mas perdi o momento por um ou dois segundos. Sabem uma coisa, não fiquei furioso, achei piada, como as coisas são, como a vida é. Consegui apesar de tudo fotografar um bonito nascer do Sol.

Antes do nascimento

Depois do nascimento e do banho

O resto do dia foi normal, esteve bonito e de mar calmo. Á tardinha voltei a equipar-me e fui até á ponte, ali não apanharia água na cabeça de certeza e podia despedir-me do meu amigo Sol...



E assim acabou o dia, a noite voltou a cobrir a Terra com o manto negro da escuridão polvilhado de estrelas.

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Uma gaivota disse: