terça-feira, 25 de novembro de 2014

Pedaços de vida de um marinheiro.

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Pelo menos tenho projectos. Tenho saudades da vida. De sentir vida, de me sentir vivo. Aqui morre-se lentamente, desgastamo-nos, envelhecemos. Já perdi a paciência de aturar merdas, de aturar mentes distorcidas donas da verdade, coisas parvas e parvoíces. Cada vez tento mais viver e deixar viver, exprimo a minha opinião mas não tento impô-la, tenho apenas direito a ela. Os outros acham as suas opiniões como verdade absolutas, são tão pequenos na sua tacanhez.
Estou com saudades de paixões e amores. Tenho saudades da minha mulher, a minha paixão e o meu amor eterno. Tenho saudades dos meus novos amores e novas paixões, fazem-me viver. As mulheres são muito engraçadas e muito complicadas mas é aí que reside a sua graça.
Tenho saudades das minhas netas. Tenho saudades dos meus filhos. Sinto-me só e com poucas forças para aguentar. Vou ter que me suplantar, vou ter que cerrar os dentes. Para compensar vou ter muito pouco juízo, evitando magoar quem quer que seja. Colorir umas amizades. E continua a doer-me a cabeça. O pé grita por seu lado que ali está, chato e rezingão e eu que ature isto, eu que me ature a mim mesmo.

(Extracto das minhas Crónicas)

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Ainda cá está...

O Coimbra, navio da Naveiro ainda aqui está semi-enterrado á espera de soluções. Sei que uns navios da Naveiro tinham passado para a alçada do BES, coisas de contas não pagas e etc. Agora com a crise no banco é que isto não se vai mesmo resolver.
E tivemos nós uma marinha mercante. 



terça-feira, 11 de novembro de 2014

O regresso

Hoje foi dia de regressar ao navio, regressar á velha vida errante. não estou muito satisfeito, gostava de estar em casa. Isto já me aborrece, tenho a sensação de não estar a realizar seja o que for, estou aqui apenas para isto poder andar, é indiferente a pessoa que aqui está.
Já fiz a primeira viagem, um certo balanço mas nada de especial, os velhos reflexos regressam embora bastante enferrujados.
Doem-me as costas, o balanço, a vibração martirizam-me o esqueleto. Tenho de enrijar a musculatura dorsal sem danificar a coluna.
Tento continuar com os meus exercícios, já usei a bicicleta, 20 minutos, simulei os exercícios da fisioterapia mas senti falta da minha fisioterapeuta, gostava de trabalhar com ela.
Logo, no cais de Leixões irei fazer uma caminhada, vou ter que gostar de caminhar em Leixões, Ponta Delgada, Praia da Vitória e Horta, é o meu destino, caminhar o resto da vida e é se quero ter um certo conforto no futuro.
Estou no camarote á espera da chegada, manobras de chegada, ainda não rotinei bem a minha vida, tenho de voltar a readaptar-me, já começa a ser cansativo.
Falei, falei e no fim estou a ser injusto, tenho de fazer uma nota á recepção feita pelos meus colegas, foi calorosa. Fiquei sensibilizado.
Estou com saudades das minhas meninas, todas elas, todas por quem eu nutro amor, carinho, amizade e paixão.
Continuo a olhar para o horizonte...


Bordo, 11 de Novembro de 2014