segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Ás vezes apanhamos banho....

Nesta travessia de Lisboa para os Açores apanhámos mau tempo, já tem sido norma neste embarque, e eu gosto de filmar e fotograar o mar. No sábado de manhã tentei mas a surriada era muita e desisti. Á hora do almoço a espuma chegava á vigia da messe. Depois do almoço abrandou um bocado e fui para o exterior, subi umas escadas, firmei-me bem para o que viesse e comecei a filmar.
O resultado é o que se segue:


Á tardinha íamos tendo uma desgraça mas isso já é outra história. Não, não se passou comigo.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A despedida


E assim ela se despediu....

O reboque do Hacinin Ahmet

Este navio já estava há já muitos e largos meses abandonado no porto de Ponta Delgada. Lembro-me da tripulação no ano passado a passar fome, sem dnheiro, sem apoios. O nosso imediato, Francisco Proença, organizou com permissão do comandante uma acção de ajuda alimentar aos homens.
Mais tarde o comandante foi interceptado pelas nossas autoridades, a tentar ir-se embora (fugir como disseram), no aeroporto. Foi levado de novo para o navio. Mais tarde as nossas actuantes autoridades lá deixaram a tripulação ir-se embora. Nunca percebi porque os retinham aqui no porto. Sem comida, sem dinheiro, sem combustível para as mais básicas necessidades eles estarem no navio ou não era a mesmíssima coisa. Coisas de autoridades, ás vezes difíceis de entender.

Hoje dia 5 de Dezembro de 2014 um rebocador vindo de Setúbal pegou no navio e levou-o. Tive a sorte de presenciar esse evento e filmá-lo.


Estava frio, estava vento e tive que andar depressa para apanhar o início mas consegui apanhar a manobra toda. Deve ser visível um pequeno detalhe que me surpreendeu, ficará para um post específico.

E assim lá se foi o navio embora.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Enquanto navego...

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O tempo melhorou mas a noite foi uma grande merda, de manhã quando me apresentei para o pequeno almoço a minha cara estava linda, o pessoal até comentou. Realmente dormi mal, dormi no sofá e acordei várias vezes, balanço e algumas dores. Estou a ficar um maricas de primeira. Também chamar de pequeno almoço á aquela coisa que tomo. Um pedaço de leite quente e café de saco que além de ser de qualidade duvidosa não tenho mesmo dúvidas sobre a qualidade da confecção, uma grande porcaria. O cozinheiro acorda, aquece o leite, faz o café de saco e "manda-se para o cavalo" e ás vezes quando a preguiça aperta re-aquece apenas o café do dia anterior. Saudades da velha marinha onde o pequeno almoço era de garfo para quem queria. Eu tomo esse horroroso café com leite porque é purgativo e faz-me despachar logo de manhã cedo todas as minhas necessidades, mais um sintoma de velhice e senilidade, falar das vezes e como vou á casa de banho. Acabo por comer ás dez, na hora chamada de "coffee time", este foi um hábito que transpus para casa. Acordar cedo, alimentar as feras, café com leite, caminhar e depois comer qualquer coisa estando pronto para as lides da casa, em casa sou um marido precioso pois trato de quase tudo da casa, isto não é só perseguir a pequena é ajudá-la também.
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(Extractos do meu texto "Crónicas")

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Pedaços de vida de um marinheiro.

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Pelo menos tenho projectos. Tenho saudades da vida. De sentir vida, de me sentir vivo. Aqui morre-se lentamente, desgastamo-nos, envelhecemos. Já perdi a paciência de aturar merdas, de aturar mentes distorcidas donas da verdade, coisas parvas e parvoíces. Cada vez tento mais viver e deixar viver, exprimo a minha opinião mas não tento impô-la, tenho apenas direito a ela. Os outros acham as suas opiniões como verdade absolutas, são tão pequenos na sua tacanhez.
Estou com saudades de paixões e amores. Tenho saudades da minha mulher, a minha paixão e o meu amor eterno. Tenho saudades dos meus novos amores e novas paixões, fazem-me viver. As mulheres são muito engraçadas e muito complicadas mas é aí que reside a sua graça.
Tenho saudades das minhas netas. Tenho saudades dos meus filhos. Sinto-me só e com poucas forças para aguentar. Vou ter que me suplantar, vou ter que cerrar os dentes. Para compensar vou ter muito pouco juízo, evitando magoar quem quer que seja. Colorir umas amizades. E continua a doer-me a cabeça. O pé grita por seu lado que ali está, chato e rezingão e eu que ature isto, eu que me ature a mim mesmo.

(Extracto das minhas Crónicas)

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Ainda cá está...

O Coimbra, navio da Naveiro ainda aqui está semi-enterrado á espera de soluções. Sei que uns navios da Naveiro tinham passado para a alçada do BES, coisas de contas não pagas e etc. Agora com a crise no banco é que isto não se vai mesmo resolver.
E tivemos nós uma marinha mercante. 



terça-feira, 11 de novembro de 2014

O regresso

Hoje foi dia de regressar ao navio, regressar á velha vida errante. não estou muito satisfeito, gostava de estar em casa. Isto já me aborrece, tenho a sensação de não estar a realizar seja o que for, estou aqui apenas para isto poder andar, é indiferente a pessoa que aqui está.
Já fiz a primeira viagem, um certo balanço mas nada de especial, os velhos reflexos regressam embora bastante enferrujados.
Doem-me as costas, o balanço, a vibração martirizam-me o esqueleto. Tenho de enrijar a musculatura dorsal sem danificar a coluna.
Tento continuar com os meus exercícios, já usei a bicicleta, 20 minutos, simulei os exercícios da fisioterapia mas senti falta da minha fisioterapeuta, gostava de trabalhar com ela.
Logo, no cais de Leixões irei fazer uma caminhada, vou ter que gostar de caminhar em Leixões, Ponta Delgada, Praia da Vitória e Horta, é o meu destino, caminhar o resto da vida e é se quero ter um certo conforto no futuro.
Estou no camarote á espera da chegada, manobras de chegada, ainda não rotinei bem a minha vida, tenho de voltar a readaptar-me, já começa a ser cansativo.
Falei, falei e no fim estou a ser injusto, tenho de fazer uma nota á recepção feita pelos meus colegas, foi calorosa. Fiquei sensibilizado.
Estou com saudades das minhas meninas, todas elas, todas por quem eu nutro amor, carinho, amizade e paixão.
Continuo a olhar para o horizonte...


Bordo, 11 de Novembro de 2014