quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

HISTORIAS DE QUEM ANDA NO MAR


Noutro dia, estávamos a entrar em Lisboa, já no enfiamento da Gibalta quando avistámos o que já é normal. Uma chusma de embarcações de pesca, especialmente aquelas marcadas como “Apanha de Bivalves” que vêm da Trafaria pescar para o meio do rio.
Esses pescadores ainda não aprenderam que as entradas da barra são locais onde os navios têm de passar para não correrem risco de ficarem atolados num banco de areia ou similar, esses pescadores acham que podem ficar parados no meio da barra e que os outros têm que passar ao largo.
Como estava a dizer, estávamos a entrar e estavam duas embarcações mesmo á nossa proa, se eles não saíssem seriam de certeza abalroados e mais um bocado na amura de bombordo (lado esquerdo) estava outra embarcação a qual passaríamos por ela a uma boa distancia de segurança. Toda a nossa atenção se centrou naqueles dois teimosos. Tocámos o apito e o comandante fez uma pequena correcção de rumos para que eles pudessem fugir para o lado que lhes dava mais jeito. È preciso explicar que a faina de apanha de bivalves consiste em estender um cabo muito comprido, fixo ao fundo com uma âncora, pôr na água o aparelho que apanha os bivalves e ir alando o cabo, mais ou menos isso.
De repente as duas embarcações afastaram-se e deram-nos espaço para passar praticamente sem alteração de rumo e lá seguimos todos contentes.
Já tínhamos passado por esses pescadores e os outros que estava a bombordo também já estavam pela alheta do nosso navio quando vejo um movimento rápido na água mesmo ao nosso lado, corro para a asa da ponte de bombordo (esquerdo) e vejo um espectáculo incrível, quatro homens num bote a alta velocidade a começarem a seguir o nosso navio.
Tínhamos apanhado com o bolbo o cabo que os homens tinham passado e que estupidamente tinham atravessado na barra de entrada do porto de Lisboa.
Gritei imediatamente ao comandante para parar o navio pois se a lancha se virasse iria haver mortes com certeza (esses bravos homens do mar continuam a ser burros e não usam coletes).
As máquinas foram paradas imediatamente mas entretanto o cabo tinha-se partido ou então eles o tinham cortado. Vimos que eles estavam em boas condições e continuámos a fazer a entrada com umas centenas de cabo preso no bolbo e a ir de arrasto. Mais uma milha e aquilo lá se soltou sem se enrolar nos nossos hélices.



Não me esqueço da carinha daquelas quatro criaturas bem agarradas dentro da lancha á velocidade de 12 / 13 nós (era enchente e enchia com força).
Publicado no SOL na quarta-feira, 4 de Junho de 2008 21:50

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Uma gaivota disse: