quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O amigo americano


Estava em viagem inaugural de um novo petroleiro, o Genmar Harriet G (Harriet Georgiopoulos é a mãe do CEO da General Maritime) e o nosso primeiro destino para carregar foi Basrah no Iraque. O terminal de Basrah é uma construção no meio do oceano, longe de costa que recebe o crude vindo de terra por oleoduto e depois carrega os navios que lá vão carregar.
O terminal de Basrah é uma das tetas dos americanos, eles não se livram da fama de terem invadido o Iraque por causa do petróleo, o que faz com que eles a defendam com unhas e dentes.

Quando estávamos a chegar fomos invadidos pelos Marines americanos. Entraram a bordo, armados até aos dentes, inspeccionaram o navio todo, verificaram os papéis e tomaram posições no navio.

Até aí tudo bem, é uma zona de guerra e eles, em princípio, estão a tratar da nossa segurança. Pensava eu que aquele aparato todo era para nos defender dos ataques da Al Quaeda. 

 
Qual não é o meu espanto quando vou á casa da máquina dou com ela trancada e para me deslocar tenho que ir escoltado e com autorização do tenente marine, aquilo deu-me uma raiva, na minha própria casa eu era tratado como um inimigo, como um terrorista.
Quando chego á sala de controlo encontro o chefe de máquinas com um ar um tanto divertido, é uma forma de encarar a estupidez, porque á sua volta estavam três marines. Reparei logo num deles, era uma marine, alta loira e jeitosa (já estávamos há uns meses sem ir a terra).

O nosso olhar guloso fez a sua mossa, a rapariga sacou de um punhal enorme e começou a arranjar as unhas. Se nos queria assustar enganou-se, apenas conseguiu o nosso olhar de troça.
Precisei de dar uma volta pela instalação e para tal fui escoltado mas vinguei-me, quando um deles quis saiu da sala de controlo para ir á zona das máquinas eu acompanhei-o, ele bem declinou mas eu insisti e fui atrás dele, ali mandava eu.
Encostámos ao terminal, eles desembarcaram e fizemos as operações normalmente durante as quais eu fiz uma série de fotografias.

Acabada a carga, simplesmente fomos embora. Nunca me esqueci dessa humilhação, de ter sido tratado como um suspeito, como um possível terrorista na minha própria casa, sim porque durante meses o navio é a minha casa.
Passaram-se uns anos e …. Depois de ter abastecido um navio no dia 30 de Dezembro, já de noite avançada, começámos a manobra de saída. Estávamos em Alcântara, dois ou três navios á frente de um vaso de guerra americano que estava atracado em Lisboa com toda a sua panóplia de segurança activa, entre tanta coisa ressaltava na noite escura uma barreira de pirilampos á volta do navio a estabelecer uma área de segurança.
Começámos a sair, com piloto a bordo, e eu estando na ponte a observar a manobra e de atenção á instalação vou até á asa da ponte ver o navio de guerra. Era uma sombra escura, quase sem luzes nenhumas. Os meus olhos percorriam o navio de uma ponta a outra tentando ver pormenores. Mesmo á proa descobri duas peças, metralhadoras pesadas, uma virada para bombordo e outra para estibordo e guarnecida por dois sentinelas. Sorri pois já estava á espera de ver isso e enquanto tentava ver pormenores detectei que a peça de estibordo mantinha-se sempre apontada para nós e só parou de nos seguir quando passámos mesmo pelo seu través. Filhos de uma grande p…., quem são eles para fazer isso na minha terra??? Apontarem-me uma arma… A minha indignação foi e é muito grande e não serve de nada pois esta atitude é permitida pelo nosso governo porque não acredito que nos USA uma fragata portuguesa conseguisse ter esta atitude.
É o nosso "amigo americano" . . . . que é tão burro que depois não compreende como podes ser tão odiado...
Publicado no SOL no sábado, 5 de Janeiro de 2008 23:16

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Uma gaivota disse: