Esta embarcação já está em Sines há uns meses e o que vou contar a seguir é de "ouvir falar".
É um negócio de um nigeriano que comprou este navio em Inglaterra e quis levá-lo para a Nigéria. A tripulação inicial era russa e durante a viagem, ainda na Biscaia o navio começou a ter problemas e a meter água. Arribou ou foi rebocado até Sines onde se iniciou a reparação. Segundo ouvi a tripulação estava de tal maneira em "guerra", questões de álcool ou semelhante que o comandante pediu ajuda ás autoridades e acabaram por todos se irem embora. Agora é tripulado por indianos....
Entretanto quando estáveis encostados veio um mecânico a bordo por causa de um trabalho e quando olhou para o reboque comentou:
- Ele ainda aí está???
- Ele ainda aí está???
E contou-nos outra parte da história. O navio tinha uma máquina Detroit Diesel de 1940 ou dos anos 40 e as principais companhias de reparação Diesel recusaram-se a mexer naquilo e foi quando ele foram chamados. Descobriram que a máquina tinha uma placa a dizer PS (portside - bombordo) o que lhes deu indicação que a máquina era de uma outra embarcação com 2 máquinas e que de 2 fizeram uma pois o volante desta era o que pertencia á máquina de estibordo, para os leigos o volante de uma máquina tem as marcações do PMS (ponto morto superior) dos vários cilindros e a troca dificultava imenso a sua reparação / afinação além da não existência no mercado de injectores e bombas para substituir.
As reparações lá foram feitas e o rebocador saiu do porto de Sines... agora é contado pelo agente (o agente é um funcionário de de uma agência que é contratada pelos navios para tratar dos assuntos do navio com as autoridades e outros), continuando... o navio estava a sair quando o agente começou a ver o comandante a gesticular. O agente respondeu de volta e acenou um grande adeus. O comandante gesticulou ainda mais furiosamente e fez sinal de telefonar. O agente teve um arrepio e pensou: Esqueci-me do telemóvel a bordo... Mas não, era o comandante a pedir-lhe para lhe ligar.
Feita a ligação o comandante requereu ajuda, estava sem máquina, tinha-se partido. E o rebocador foi rebocado para a actual posição. A sua tripulação sobrevive como pode, sem dinheiro e sem apoios, sei que já fizeram queixas ao SEF e ás autoridades, o que eles mais querem no momento é serem repatriados... o rebocador já não deve valer os custos das reparações e estadia.
Depois de carregarmos o nosso navio com o equipamento para o exercício ficámos no cais até á madrugada do dia seguinte para seguirmos para o local de reunião com outras unidades, nessa noite a maior parte da tripulação aproveitou e foi jantar a terra esquecendo-se de avisar o cozinheiro, sobrou muita comida. Quando se constatou as sobras um marinheiro teve a ideia de as dar aos indianos, falou com o cozinheiro e então juntou-se a comida levando-a em seguida ao navio abandonado. Os sorrisos e o agradecimento daqueles homens foi tocante. Tocante é também saber que ainda há gente boa que se preocupa com os seus semelhantes....
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Uma gaivota disse: