Ou seja apareci no navio sem nunca ter posto os pés numa casa da máquina excepto uma visita de estudo ao navio S. Tomé da extinta CNN, apareci como 3º maquinista a chefiar um quarto porque a companhia entendeu que eu percebia á brava daquilo.
Os primeiros momentos na casa da máquina foram á saída do navio para viagem, só via uns gajos a andar e abrir e a fechar válvulas, ruídos fortes e parecia tudo um vendaval.
Puseram aquilo a andar enquanto eu de olhos arregalados via pela 1ª vez como se arrancava com uma máquina e não percebia nada daquilo, era tudo novo. No fim estabilizaram a instalação e mostraram-me o manómetro do óleo de lubrificação e da água de refrigeração dizendo-me: - Se isto baixar toca o alarme, desligas o motor assim e chamas-me… ok?
E assim o 2º maquinista deixou-me sozinho com um ajudante a tomar conta da instalação…
No dia seguinte a meio do quarto das 8 ás 12 chamaram-me para ver uma coisa e puseram-me numa posição estrategicamente escolhida que era debaixo de uma abertura que existe no piso das cabeças que é para pôr o embolo da maquino quando desmontado. Debaixo dessa abertura eu era um alvo fácil e foi o que aconteceu, levei uma banhada de Marine Diesel que é um combustível semelhante ao gasóleo mas é escuro como o fuel. Levei com uma “baldaça” de 10 litros de marine diesel pela cabeça abaixo, coisa que não achei piada nenhuma pois entrou-me pelos olhos adentro e cegou-me totalmente. Fartaram-se de rir á minha custa mas lá me guiaram para o lavatório para eu lavar a cara e os olhos.
Já recuperado e com os olhos a arder perguntei que depois daquela gracinha precisava de lavar o fato-macaco e onde podia faze-lo.
A resposta foi imediata:
- Entrega á lavadeira!!!!!
- Lavadeira? O navio tem lavadeira? Perguntei eu muito admirado.
- Sim, claro que tem e neste navio a lavadeira é a mulher do cozinheiro! Foi a resposta imediata.
Um navio que tinha cozinheiro, ajudante de cozinheiro, padeiro, despenseiro, três empregados de câmaras era natural que tivesse uma lavadeira também e assim lá fui eu a pingar diesel por todos os lados bater á porta do cozinheiro e entregar a uma senhora de olhos arregalados de espanto um fato-macaco encharcado em Diesel.
E fiquei á espera que me viessem entregar, esperei 3 dias até que a certa altura dando uma volta pelo navio vi uma sala com a placa de Lavandaria e lá dentro, num canto, estava o meu fato-macaco todo encharcado em Diesel e com mais uma data de lixo em cima. Abri a máquina de lavar, meti-o lá dentro e pu-lo a lavar. E ria-me da partida que me tinham feito, realmente tinha sido engraçada pois tinha sido inventada na hora, a “baldaça” não tinha achado piada mas a esta tinha-a achado genial.
E lá fui eu bater á porta do cozinheiro pedir-lhe desculpa pela minha “tenrice” pois não queria de maneira nenhuma faltar ao respeito á sua mulher que naquela altura viajava com o marido. Mais tarde soube que o homem tinha andado á minha procura para me partir a cara pois tinha ficado ofendido mas tinha sido travado pelos autores da partida.
Depois dessa passei a ter mais cuidado com o que me diziam… Esta história conto-a muitas vezes pois continuo a achá-la deliciosa… a carinha da senhora a receber o fato-macaco, a minha ingenuidade… o improviso da piada em si.
E assim me iniciei na Marinha Mercante….
Jimmy the Sailor
Publicado no SOL na terça-feira, 21 de Julho de 2009
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Uma gaivota disse: