domingo, 11 de março de 2012

Crónicas Inglesas II

A história começa Domingo dia 10 de Abril de 2011, tinha acabado de chegar do Algarve onde tinha ido para uma almoçarada de Xamuares Kocuanas e um passeio para ver e fotografar as belas paisagens da costa de Albufeira.

Mas eu sou um gajo moderno, fanei o GPS á minha cara metade, a verdade é que ela mo ofereceu mas fica-me melhor dizer que o fanei e comecei a preparar a viagem. Liguei o bicho ao meu portátil onde tenho a aplicação do Garmin, introduzi as coordenadas, tanto de Heathrow como de Pembroke, coordenadas essas sacadas do Google Earth e comecei a preparar a rota.

O GPS da minha bondosa (foi ela que me emprestou o GPS) cara-metade só tinha os mapas Ibéricos por isso carreguei com os mapas necessários á viagem. Por via das dúvidas imprimi um roteiro que saquei do Google Maps. Todo contente relaxei e comecei mentalmente a meter mudanças com esquerda e a tentar lembrar-me dos meus tempos de Moçambique onde se conduz á inglesa.

2ª Feira foi um dia um bocado atarefado, tomar conta da neta pois a tratadora dela estava doente e eu tive que ficar com a miúda, felizmente o stock de “pintarolas” estava em cima e o dia passou-se até eu me ir deitar já bastante tarde e acabar por quase não dormir, acordei ás 05:30 da manhã pois queria estar no aeroporto á 08:00.

Apanhei o comboio, não valia a pena a pequena ir levar-me ao aeroporto pois iria apanhar um trânsito terrível, apanhei o táxi e desembarquei na Portela. Fiz o check-in, fui beber um café e pus-me a esperar lendo um livro no meu Kindle e ouvindo música no meu iPod, como eu disse sou muito moderno.

Fiz o voo sem novidade apenas com o detalhe que depois de ter bebido o café do avião tive, mesmo antes de aterrar, ido a correr ao WC, digamos, um bocadinho de aflitos.

Finalmente em Heathrow onde me dirigi ao balcão da Avis para levantar o meu carro. Não era assim tão simples, tive que apanhar o transfer da Avis para o seu centro de recolha e apanhar lá o carro. O meu trajecto impresso saía do Terminal 1 mas eu confiava no meu GPS.

Quando vi o carro lembrei-me do meu filho mais velho, um Alfa Romeu de 2 portas todo XPTO, para mim um problema pois não gosto muito de carros muito modernos e cheios de electrónicas, a minha modernice tem limites.

Embarquei a minha bagagem e comecei a rolar com a vozinha doce do GPS a dar-me indicações bastante precisas e eu comecei a relaxar.

Ia já numa auto-estrada todo contente e super confiante na máquina maravilhosa que é o GPS quando a vozinha doce me disse para sair á esquerda e depois á direita, estranhei mas como sou moderno obedeci… quando me lembrei que não tinha reprogramado o GPS depois do ultimo upgrade para que ele só tomasse as auto-estradas, uma contrariedade mas segui em frente, a conduzir já não podia começar a mudar os settings do aparelho, além de que com a pressa não o fixei no sítio mais acessível para o manipular, não contei com essa possibilidade.

Seguindo as indicações da vozinha doce comecei a estranhar não ver carros e apenas umas vaquinhas risonhas a olhar para mim com aquele ar bovino, comecei a ficar preocupado.

De repente caiu a realidade, o mapa do GPS ficou branco, sem estradas nenhumas e a voz doce já muito nervosa só repetia: “Recalculando, recalculando…”, eu estava totalmente perdido.

Mas apesar de ser moderno também sou marinheiro e já há uns anos, mesmo antes de haver GPSs por isso tentei acalmar-me e rumar na direcção de W / NW, ira para os lados do País de Gales. E guiei assim ainda umas milhas até entrar numa povoação e tentar pedir ajuda. Consultei o meu percurso impresso e resolvi apanhar a M4 e que me levaria até Gales. O sorriso do pessoal era delicioso, especialmente quando eu dizia que estava perdido e queria ir para Pembroke.

Com as indicações dadas lá fui andando e dei com a famosa M4 e apanhei-a logo…. Em direcção a Londres, foi um bocado frustrante. Enchi-me de coragem saí da M4 para fazer a inversão de marcha o que consegui com alguma dificuldade.
A vozinha doce não se cansava de me dar conselhos mas o aviãozinho (o boneco que a minha cara-metade escolheu para sinalizar o carro) estava sempre fora da estrada mas também verdade seja dita, ia mostrando a M4.

Já na M4 e em direcção ao País de Gales comecei a relaxar embora eu não tivesse uma ideia certa qual seria a saída. Conduzi assim muitas milhas até que a garganta já ardia de tanta secura, o estômago vazio e a bexiga cheia fez sair outra vez da M4 para ir para uma área de serviço, não são como as nossas em que entramos nelas e saímos muito facilmente, aqui essas coisas são um bocado mais difíceis.
Parei na estação de serviço, comprei uma água e dois pacotes de Oreos, souberam-me bem. Bebi um expresso duplo e fui para o carro, chovia.

E agora vão perceber porque não gosto de carros modernos, com a pressa e a chuva atrapalhei-me um bocado e já instalado meti a chave na ignição e népias, carro bloqueado. Entrei, saí, abri e fechei as portas com a chave e tentei as variações todas e aquela merda não desbloqueava.

Já me via a passar a noite na área de serviço com a porcaria do carro bloqueado até que decidi fazer outra tentativa. O carro abriu e no tablier pude ler uma mensagem: “Tentativa recente de intrusão”. Exclamei para ele furioso: Era eu seu burro!!!! Se eu posso ouvir a vozinha doce do GPS posso mandar passear o carro.

Saí da área de serviço e perdi a entrada na M4. Andei ás voltas um bocadinho, voltei á área de serviço e lá consegui dar com a entrada.

Fiz mais uma data de milhas, debaixo de chuva, trânsito e a escurecer mas começava a ver já sinalização em gaélico o que me dizia que já estava no País de Gales mas também não me ajudava nada pois é uma língua lixada.

Por volta de Cardiff a minha vozinha doce começou a fazer-se ouvir outra vez e parecia já recuperada da sua insanidade temporária quando me pus a pensar, eu gosto muito de pensar, o que teria acontecido. Foi simples, quando carreguei os mapas e o percurso o sistema apenas carregou o mapa da área de Heathrow e o de Pembroke, não pôs nada na zona intermédia o que fez a vozinha doce ficar maluca e baralhada.

E lá fui eu todo contente, já escuro até Pembroke Dock. Antes de passar o portão telefonei para o navio para saber onde eles estavam. Não estavam… estavam em Fishguard a abastecer e por isso por instruções do comandante tinha de ir passar a noite ao hotel, o King’s Arms Hotel em Pembroke. Fiquei a saber que Pembroke Dock é uma coisa e Pembroke é outra. Tive de parar para perguntar onde ficava o raio do hotel mas como sou muito moderno pedia apenas o nome da rua, introduzi no GPS e a vozinha doce levou-me até ao hotel sem falhar.

Instalei-me, jantei uma carne de porco acompanhado de uma “ale”, cerveja de cá e fui-me deitar, estava rebentado. Adormeci a sonhar com a vozinha doce….

No dia seguinte fui para o navio já sem percalço nenhum….

Publicado no SOL na sexta-feira, 15 de Abril de 2011

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Uma gaivota disse: