Na outra história digo que sou burro por me atirar á louca, nesta apenas fui burro, mesmo muito burro e ás vezes a burrice paga-se caro…
Passou-se no mesmo navio, o graneleiro Fernão Lopes, e a história começou numa altura em que eu quis fazer um bocado de terrorismo com o 1º maquinista, tenho muito má memória para nomes, porque ás vezes me chateava o juízo sem razão aparente.
A máquina principal era uma Burmeister com uma válvula á cabeça, eu era homem das Sulzer RD e não conhecia aquele modelo. Esta máquina tinha os lubrificadores dos cilindros todos unido por um veio accionador, era veio, lubrificador, veio, lubrificador, etc.
Devido ao tamanho do cilindro esses lubrificadores injectam óleo para lubrificar a camisa, esse óleo é perdido, parte queimado, parte drenado já queimado para o ar de lavagem e depois drenado para um tanque.
Eu, muito esperto, chamei a atenção ao 1º maquinista que se um dia um dos veios se partisse, o acoplamento tinha uns discos fusíveis, parte dos cilindros ficava sem lubrificação que faria com que a máquina gripasse.
Se eu fui pouco esperto o camarada primeiro também não foi melhor do que eu pois perguntou-me o que eu faria ao que lhe respondi que retiraria a protecção dos veios e pintaria umas helicoidais para poder ver o movimento e assim com um simples olhar eu controlaria a sua rotação.
E assim ele deu-me a inteligente ordem de retirar as protecções e pintar os veios. Ressalvo aqui que não quero insultar o meu colega, até o considerava bom profissional mas acho que naquele dia o almoço devia estar estragado pois só fizemos merda, eu especialmente.
Juntamente com o ajudante de motorista peguei em duas chaves de bocas e comecei a tirar os parafusos e porcas da primeira protecção, com muito cuidado pois a máquina rodava a 95 RPM e o veio fazia a mesma velocidade.
Tirados os parafusos comecei a delicada tarefa de levantar a protecção mas não contei que as sapatas de fixação estivessem viradas para dentro e que tocariam nos tais discos fusíveis. Tocaram…
Sinto uma pancada na mão, a chapa tinha-se enrolado no veio e tinha-me a apanhado a mão direita que estava entre a chapa e o veio começando a ser guilhotinada. Ao mesmo tempo o meu braço começava a acompanhar o movimento de rotação. Um quarto de volta durou esse momento, pareceu uma eternidade, e a chapa soltou-se e eu consegui retirar a mão a toda a velocidade. O tempo tinha parado, vi aquele quarto de volta como se fossem minutos, ainda me lembro do horror da situação.
A chapa saltou e eu recuei agarrado á mão, apresentava um risco negro debruado a vermelho azulado na zona onde se estava a iniciar o corte, apanhava-me desde o espaço entre polegar e indicador e o pulso começando a doer bastante.
Apesar da dor eu só olhava para a mão e dizia para mim mesmo:
- Está cá! Está cá!...
Quando ajudante reagiu já se tinha tudo passado, eu tinha ainda mão, dorida mas inteira, a máquina continuava a trabalhar e tudo tinha acabado em bem.
Nesse dia fui muito burro e também um grande sortudo pois normalmente estas histórias têm um fim bastante triste.
Mas aprendo depressa, não se deve desmontar máquinas em funcionamento, é perigoso.
Jimmy the Sailor
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Uma gaivota disse: