quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

UMA "CASSADA" AO TUBARÃO

Comecei a caçar em Moçambique em 1973, e como tudo o que gosto de fazer não aprendi com ninguém. Faço as coisas por instinto e ás vezes com uma inconsciência que chega a raiar a estupidez. Decidi ir passar umas férias à Ponta do Ouro, a praia mais a Sul de Moçambique onde me tinham dito que se caçava bem. Peguei no meu equipamento e lá fui.
O meu equipamento era demonstrativo da minha experiência. Uma arma australiana de marca Thurnbull (ainda hoje a tenho) com uma ponta de tridente porque era mais fácil apanhar os peixes pequenos e equipada com um carreto com muitos metros de linha para o caso do monstro de 300 gramas querer fugir. A acompanhar isto, um cinto com 2 kg de chumbo (não tinha fato) para ir melhor ao fundo e uma faca Champion que pesava 1/2 kg (perdi-a em Porto Covo). Assim artilhado entrei na água.
Ao fim de dez minutos de nadar atrás duns peixes em água livre lá apanhei um monstro de 20 cm que teve o descaramento de me morder num dedo. Meti o peixe ferido no enfião pendurado à cintura e lá continuei a caçada.

Passados mais uns 10 a 15 minutos sem apanhar nada resolvi melhorar o meu ego olhando para a minha presa no enfião. Primeira contrariedade, só tinha um fio pendurado, sem ferro e sem peixe: -- Bolas! O peixe mordeu o fio e cortou-o! Sem desmoralizar lá continuei as perseguições. De repente, no fundo de areia um peixe morto (era o meu), aproximei-me para o apanhar quando noto mais à frente um reflexo prateado. "Que grande peixe! A adrenalina subiu e atirei-me ao bicho. O peixe nada na minha direcção e eu fiquei parado a olhar maravilhado. Era um tubarão, um tubarão martelo, era lindo, a perfeição com que nadava, a minha caça por excelência. Só os HOMENS matam tubarões!
Segunda contrariedade. Estava equipado com tridente que não era próprio para tubarões. Enquanto me atirava ao animal que até não era muito grande, cerca de 1.80, ia pensando na estratégia de o apanhar com a minha vasta experiência.
Primeiro, estar sempre de frente para o tubarão, em seguida, tentar arpoá-lo nas guelras para o sangrar e assim cansá-lo, e mais depressa o dominar. Só que o tubarão não parava de fazer círculos à minha volta e a uma certa distância. Eu não esmorecia e nadava sempre para o pôr ao alcance de tiro. A certa altura ele pôs-se de lado, a dois metros de distância, levantei a arma, o tubarão deve ter adivinhado as minhas intenções deu uma sapatada e desapareceu pela direita, deu uma volta larga e atacou por trás com uma rapidez incrível, eu tentava desesperadamente manter-me virado para ele, quando o tubarão mergulha e passa por debaixo de mim. Nesse momento disparo um tiro certeiro na cabeça, o tubarão sacode-se e o arpão cai, a barbela não tinha entrado.
O tubarão assustou-se e desata a fugir. "Bolas! pensei."A minha presa a fugir-me, não pode ser!", carrego a arma sempre a nadar em sua perseguição. Cada vez o via mais longe, estava furioso, escapava-se-me por entre os dedos, cada vez nadava mais depressa até que deixei de o ver. Parei. Onde estava? Olhei para baixo, só azul-escuro por todo o lado, tirei a cabeça fora de água e olhei para terra, estava perigosamente longe, e nesse momento realizei: E se ele foi chamar o pai?!...
Cheguei a terra estoirado, sem tubarão, sem peixe e sem enfião, Deitei-me a descansar e contei a história à minha namorada (ainda hoje a tenho) e comecei a preparar-me para outra "cassada".

PS.
História escrita inicialmente para um concurso de histórias engraçadas de caça submarina da revista o Mundo Submerso, acho que por volta de 1995

Publicado no SOL na sexta-feira, 4 de Julho de 2008 0:59

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Uma gaivota disse: